sábado, 26 de outubro de 2013

Com tristeza e preocupação (II)

Como disse há dias, compreendo a consideração, por cada força política e social, entre a convergência para a unidade comum e a defesa de interesses próprios, legítimos quando essenciais para a afirmação dos seus fins particulares. 

A meu ver, não é o que se está a ver em Portugal, no que respeita à mobilização popular contra a política de austeridade, contra os troikianos externos e internos.

Não vou falar dos institucionalistas, ou dos utópicos de uma esquerda fantasista, que obviamente em nada contribuem para essa luta popular efectiva, porque nela só participa uma pequena minoria honrosa do PS, à revelia da direcção do seu partido. E disse institucionalistas porque, geralmente, são pessoas que se movem estritamente no quadro formal da democracia parlamentar, muitas vezes até com horror à voz do povo na rua ou nos seus movimentos de base.

Assim, o meu apelo à unidade não é o que mais se vê por aí, a coisas entre cúpulas partidárias, onde talvez alguns se vejam já sentados à mesa. Proclamo outra coisa.

A unidade necessária, que talvez alguns carreiristas ambicionem para seu proveito, não é só entre partidos, mediada por uns independentes de serviço. É a unidade entre coisas diversas convergentes a vários níveis para a luta popular. 

É urgente que partidos da esquerda consequente, sindicatos, organizações não partidárias e movimentos inorgânicos apelem, com base programática apelativa, à adesão dos cidadãos a uma plataforma de alternativa popular e patriótica, com base num bloco social de revolta popular contra o golpe (não vêem que ditatorial?) que o novo fascismo, encapotado e sob a ideologia dominante neoliberal está a fazer. Depois, que para essa adesão se chamem todos os cidadãos motivados, e aqui é que cabe um lugar fraterno para os eleitores e simpatizantes do PS que não se revêem na política do seu partido.

Para isto, todos os promotores têm de dar o exemplo de abertura ao diálogo, de negação do sectarismo, de humildade revolucionária.

E que programa? Obviamente que não sou eu a ditá-lo, mas, para aderir com o entusiasmo que me resta no fim da minha década de 60s, gostava de ver coisas como:
  • Planificação democrática da economia, com respeito por um modelo de sustentabilidade social e ambiental, discutido com as organizações do sector.
  • Uma atitude firme do governo na afirmação da nossa soberania junto dos órgãos internacionais e de outros países.
  • Código rigoroso de ética dos agentes políticos.
  • O recurso sistemático aos meios de defesa dos cidadãos, a começar pelo Provedor de Justiça.
  • A resistência passiva, cidadã, contra a violência do governo, nomeadamente no que respeita às imposições fiscais.
  • A resistência passiva, cidadã, contra os roubos praticados pela banca.
  • O boicote à comunicação social desinformadora e manipuladora, diminuindo-lhe as audiências e, logo, as receitas de publicidade.
  • O reforço do acesso fácil e gratuito dos cidadãos aos procedimentos da administração pública.
  • Rejeição categórica do cheque de ensino.
  • Rejeição da dívida ilegítima, nomeadamente a resultante dos movimentos bancários de crédito barato e especulativo do centro para a periferia, durante a construção da euro-zona.
  • A denúncia do memorando com a troika e reestruturação da dívida, com estudo da eventual saída do euro e da suspensão do serviço da dívida.
  • Uma política contracíclica, a fomentar a procura interna por aumento dos salários, do emprego, dos investimentos públicos.
  • Um sistema fiscal justo, na relação entre trabalho e capital (embora me pergunte o que é aqui justo, porque sou anticapitalista).
  • Refundação do sistema bancário, condicionada pela perspectiva da sua inserção na economia nacional pública.
  • Defesa intransigente, custe o que custar em termos de dívida, do estado social.
  • Uma política de, pelo menos, igualdade no que se pede ao capital e ao trabalho como contribuições para solução da crise.
  • Na situação actual de dificuldades no crédito à habitação, mesmo aos já em curso, aprovar a dação em pagamento com efeitos retroactivos, a suspensão imediata dos despejos e a reconversão das hipotecas em alugueres sociais.
E mais não digo, que muito seria, porque não sou candidato a primeiro ministro.

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