quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Realidades e símbolos em política

Por toda a parte em que se degrada a democracia, como em Portugal, cresce o populismo. O termo é de definição complexa, mas vou entendê-lo agora, com algum esquematismo, como o populismo exemplificado por experiências latino-americanas, tipicamente o peronismo. Em primeiro lugar, atitude de desconfiança em relação à democracia institucional, responsabilizando principalmente os políticos (com tendência para “todos os políticos), como carreiristas, medíocres, porventura corruptos.

Acresce a emergência de um caudilho que pode nem dar, imediatamente, a imagem de ditador. Pode ser um velho professor de finanças, com antigas responsabilidades governativas que agora se esquecem, e a massacrar, via televisão, com a mensagem anti-políticos. Finalmente, propostas demagógicas, ou por não exequíveis ou, mais frequentemente, por não terem significado objectivo ou importância real, por serem, como se costuma dizer, amendoins. 

À primeira vista, um bom exemplo seria o corte de 15% nas subvenções vitalícias pagas aos políticos, como noticia o Público. Vai cair bem, mas, depois da extinção dessas subvenções pelo governo Sócrates, em 2005, o universo atingido é residual, de cerca de 400 pessoas, correspondendo a uma despesa de cerca de 9 milhões de euros e sendo que, assim, o corte representa cerca de 1,35 milhões de euros.

Quando se fala tanto do compromisso do governo face à troika de reduzir o défice em 4000 milhões de euros, quando a anunciada redução das pensões de sobrevivência significará uma redução de despesa de cerca de 100 milhões de euros, quando nada se cortou ainda nas PPP, nem sequer nos consumos intermédios da administração pública (vamos discutir as despesas de representação e os cartões de crédito? ou julgam que são só os deputados?) este pouco mais de um milhão de euros é mesmo amendoim, tal como as grandes mordomias que são, por exemplo, um computador em cada posto no plenário para, como dizem as pessoas, os deputados jogarem às cartas ou uma remuneração de titular de órgão de soberania que, se não me engano, é inferior à de um director geral.

A aceitação popular de medidas como esta é grande e é legítimo pensar-se que o governo só a decide, sabendo que ela não tem significado real, por demagogia e cumplicidade com esse populismo. No entanto, a questão não se esgota nestes dois aspectos – significado real (económico) e impacto populista. Há também outro plano importante, o simbólico, com grande impacto na confiança das pessoas na ética republicana e nos valores da democracia. É considerando este plano, embora denunciando o oportunismo demagógico do governo, que concordo com esta decisão.

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