sábado, 26 de outubro de 2013

Robôs políticos

Numa entrada anterior, procurei alertar para as deficiências actuais de uma democracia muito vulnerável à falta de informação dos eleitores quanto a problemas económicos cada vez mais técnicos, bem como à sua vulnerabilidade em relação às máquinas mediáticas de construção/destruição de robôs políticos.

Esses fantoches, produtos medíocres desta lógica político-partidária, não podem deixar de ser medíocres, porque alguém que tenha ideias e grandeza intelectual e ética ameaça a lógica deste sistema e os interesses bem defendidos dos caciques partidários. Concorde-se ou não com eles, Guterres, Durão Barroso e até Santana Lopes e Sócrates, são o fim da geração anterior. Portas é caso à parte, sui generis. Passos Coelho e Seguro são irmãos numa tendência de banalização da mediocridade na política.

São papagaios que debitam coisas que lhes ditam, com postura, indumentária e expressão que lhes são maquilhadas logo de manhã pelos construtores de imagem. Ainda hoje, a boa crónica de Daniel Oliveira no Expresso, referindo uma intervenção do deputado Miguel Frasquilho, do PSD, é arrasadora, ao citar afirmações recentes de Seguro que Passos Coelho não enjeitaria.

Eu valorizo mais a posição colectiva de um partido, porque resulta mais significativamente de um balanço da relação de forças das correntes e influências internas. Mas considero, não é nenhuma descoberta, que a figura do líder é hoje eleitoralmente determinante. Estranho é que, em alguns casos, os partidos tenham uma atitude quase suicida nessa escolha, a não ser que, como disse, prevaleçam os interesses aparelhísticos.

Só assim compreendo que, antes das eleições de 2011, o PS não tenha escolhido outro líder (Costa?) a substituir um Sócrates completamente desgastado e a conduzir certamente o PS – e todos nós – para o desastre, como se viu.

Da mesma forma, com Seguro de triste figura, o PS só pode confiar em que as eleições sejam o mais tarde possível para beneficiar mais da política criminosa do governo, porque com Seguro não é seguro. Mas isto dá tempo para que uma ala esquerda de militantes influentes do PS – há? – se concentre na sua tarefa prioritária e urgente: mostrar aos militantes do PS que a sua “salvação” partidária passa obrigatoriamente pela regeneração da noção de liderança e pela escolha atempada de um novo líder. E, para quem noutra esquerda se interessa, e não pode deixar de ser, pelo que se passa no PS, apoiar este esforço é mais importante do que defender aproximações espúrias com a sua actual direcção.

NOTA – Esta semana, realizou-se a sessão habitual de abertura do ano lectivo da minha escola, em que há sempre um prelector de honra. Foi Carlos César, que todos conhecem como ex-presidente do governo regional dos Açores. O tema era o mar, de que falou muito bem, mas só durante metade do tempo. O resto foi para um importante discurso político, de grande amplitude.

Sabe-se que eu não sou um adepto da social-democracia, mas, nos tempos que correm da sua rendição ao neoliberalismo, ouvir um socialista dizer que a democracia está a ser aprisionada pela dívida, que a política está a ser feita à margem do povo, que o bloco político necessário é para a luta pelos direitos sociais, e até que é necessária a reestruturação da dívida e que se isto resultar em crise política, tanto melhor, ouvir tudo isto, dizia, surpreendeu-me. 

Ou muito me engano, ou foi um discurso de lançamento, como compreenderam os jornalistas que, no fim, longamente o entrevistaram. António Costa está preso à câmara de Lisboa, Carlos César está livre. Seguro que se cuide! 

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