quinta-feira, 6 de junho de 2013

It's politics, stupid (II)

Continuando o texto de ontem, sobre as relações por vezes complicadas ou menos transparentes entre a política e a economia: encontrei um “post” recente de Krugman em que, com o título que usei por coincidência, “It’s The Policy, Stupid”, em que ele escreve (tradução minha)
“Como provavelmente vamos ter uma data de histórias sobre economistas em luta e tudo o mais, só uma nota: não se trata de coisas pessoais. Trata-se da volta desastrosamente errada que levou a acção política em 2010, em todo o mundo desenvolvido. Os economistas só contam até ao ponto em que ajudaram e foram cúmplices com essa mudança errada. As suas opiniões (e as minhas) não interessam nada.”
Igualmente frontal é Dani Rodrik, outro de Harvard, ao escrever “The Tyrany of Political Economy” no portal do Project Syndicate
“Houve um tempo em que nós, economistas, nos mantínhamos longe da política. Para nós, o nosso trabalho era descrever como funcionam as economias de mercado, quando falham, e como as políticas bem planeadas podem aumentar a eficiência. Analisávamos os ‘trade-offs’ entre os objectivos concorrentes (digamos, a equidade versus a eficiência) e recomendávamos políticas que atendessem os resultados económicos desejados, incluindo a redistribuição. Cabia aos políticos aceitarem o nosso conselho (ou não) e aos burocratas pô-lo em prática. 
Foi então que alguns de nós se tornaram mais ambiciosos. Frustrados com a realidade de grande parte dos nossos conselhos ter sido ignorada (tantas soluções para o mercado livre ainda à espera de serem tomadas!), desviámos o nosso jogo de ferramentas analítico para o próprio comportamento dos políticos e dos burocratas. Começámos a analisar o comportamento político utilizando a mesma estrutura conceptual que utilizamos para as decisões dos consumidores e dos produtores numa economia de mercado. Os políticos tornaram-se nos fornecedores que maximizam o rendimento dos favores políticos; os cidadãos tornaram-se nos lóbis dos lucros monopolistas e em interesses especiais; e os sistemas políticos tornaram-se nos mercados onde os votos e a influência política são negociados para benefícios económicos.”
“(…) Uma coisa que os especialistas sabem e que os não-especialistas ignoram, é que a extensão do seu conhecimento é mais limitada do que os não-especialistas pensam. As implicações vão além de não sobrevalorizar o resultado de uma determinada investigação. A autoridade e precisão que os jornalistas, os políticos e o público em geral têm tendência para atribuir ao que é dito pelos economistas é superior àquela que os próprios economistas deveriam realmente aceitar. Infelizmente, os economistas raramente são humildes, especialmente em público. 
Existe ainda outro pormenor relativamente aos economistas que o público deveria conhecer: a progressão na carreira dos economistas académicos é feita por meio da astúcia e não da sabedoria. Actualmente, os professores das melhores universidades distinguem-se, não por estarem certos a respeito do mundo real, mas por criarem deturpações teóricas fantasiosas ou por desenvolverem novas evidências. Se estas competências os tornarem igualmente em observadores perspicazes das sociedades reais e lhes propiciarem uma sólida capacidade de discernimento, não será certamente resultado de uma intenção nesse sentido.”
No lugar que ocupa, Gaspar não é um economista errado, é um político e ideólogo ultra-reaccionário e antipopular, e em nenhum dos casos é um louco inimputável. Da mesma forma, a UE não é a academia da ciência política, é (novamente o humor de Krugman) o Rehn do terror político.

P. S. (7.6.2013) – Sobre este tema, um artigo apanhado hoje que me pareceu interessante embora, como leigo, não o possa criticar devidamente: D. Acemoglu e J. A. Robinson, "Economics versus Politics: Pitfalls of Policy Advice" (pdf, descarregável).

(Imagem de Paul Lachine)

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