sexta-feira, 21 de junho de 2013

Coisas que se dizem (II)


“A culpa da crise é de os governos se terem endividado”. Não é verdade. Não sou economista mas até aí chego. 

Começa por ter de se falar da totalidade da dívida externa, envolvendo também a banca, as outras empresas e as famílias, e não só da dívida pública (do Estado). Por razões que têm sido amplamente divulgadas e explicadas por muitos economistas, o que debilitou a nossa economia, tornando o seu financiamento (impossível por emissão de moeda, por estarmos no euro) pelo mercado muito vulnerável à especulação e subida de juros foi principalmente o brutal endividamento da banca junto da zona euro, com transferência dessa dívida, a juros muito maiores, para os particulares. Pelo menos é isto que me tem sido ensinado.

Se olharmos só para a evolução da dívida pública, surpreendemo-nos. Veja-se a figura, extraída da análise das contas públicas de 2012 pelo Conselho das Finanças Públicas. Entre 2000 e 2008, a dívida pública oscila não significativamente à volta de 62% do PIB, quase igual ao critério de Maastricht. Sobe consideravelmente depois do início da crise, em 2008, quando a Comissão europeia, ao contrário do que defende agora, incentivou uma política de despesa pública expansionista (neokeynesiana). E sobe aceleradamente no último ano, já em época de “assistência financeira” com austeridade recessiva, passando da tal média de 60% para inimagináveis 123,6% do PIB, coisa que devia fazer pensar os Rehns e Gaspares ainda agarrados aos 90% de Reinhard e Rogoff.

Afinal, como o ovo e a galinha, foi a dívida pública que causou a crise ou foi a crise que causou o remédio que está a fazer explodir a dívida? Se a responsabilidade vem de antes de este governo, porque é que a sua política catastrófica nem sequer conseguiu corrigir a evolução da dívida?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário. Os comentários de leitores não identificáveis não serão publicados.