Quando sedimentada a poeira do caso Relvas, dentro de dias (e aqui direi do que resultar), no que respeita à universidade que lhe conferiu o grau - mal ou bem, mas estou certo de que sem dolo, a nível institucional - é altura de se refletir sobre a chamada “acreditação de aprendizagem prévia experiencial” (”Accreditation of prior experiential learning”, APEL).
Tanto se disse que era coisa indiscutível do processo de Bolonha, quase que a sua essência, sem mais regras nem considerações de prudência, como se disse que era uma ofensa a quem cumpre o seu percurso académico padrão. Nem uma coisa nem outra. Escrevi algumas reflexões mais elaboradas e documentadas sobre isto, no meu sítio, que sinto merecer reanimação, embora com respeito pela transparência dos eventuais conflitos de interesses.
Fez-se muita asneira sobre este assunto, em públicas e em privadas. Reflexo, afinal, de que a maioria das instituições, seus responsáveis e professores, nunca estudou a sério o processo de Bolonha e por isto a sua transposição para Portugal é uma caricatura vergonhosa. Não só asneiras, também aldrabices. A Lusíada, hoje na presidência da associação das privadas, veio dizer que nunca tinha feito creditações profissionais. Mentira, como eu sei pelo estudo que tenho estado a fazer de todos os processos da Lusófona, bom número de casos transitados da Lusíada. Começo a sentir que tudo isto entre universidades é coisa demais para a minha carroça.
Este caso veio também novamente pôr em discussão, com boa dose de preconceitos, a questão das universidades privadas. Ninguém que me leia duvida da minha defesa do serviço público, na educação, na saúde, na segurança social. Mas isto não significa que não admita o privado, não por qualquer espécie de direito natural, mas como complemento obrigatoriamente de qualidade controlada quando o serviço público é insuficiente. Ou como coisa de mercado, para quem quer pagar, sem qualquer contributo público.
Se, com tudo isto, continuo com responsabilidades numa privada, é porque ainda acredito que é esforço que vale a pena e que me poderá gratificar. Se não...
No caso das universidades privadas, a pergunta óbvia é: com propinas altas, porque é que ainda têm tantos alunos? Luxo de ricos? Não é verdade, porque têm alguma conotação pejorativa que até afastaria os ricos, ao contrário das clínicas privadas. E não é verdade porque eu, que lá ando, vejo uma pequena minoria de meninos-bem preguiçosos e ostentadores de riqueza, que passam o dia na cervejada, contrastando com uma maioria que almoça sopa e sandes e que não tem estacionamento para o Porsche que não tem.
Como é que, apesar de tudo isto, as melhores privadas - uma ou duas - conseguem sobreviver face às públicas que recebem do financiamento público e das propinas uma verba por aluno muito mais alta? Tem a ver, principalmente, com a sua natureza de “universidades de ensino”, contra a de “universidades de investigação” do setor público. E será mau ser-se “universidade de ensino”? Algumas das melhores americanas assumem este estatuto. Escreverei sobre isto, um dia destes.
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