O título é contraditório, mas haja lugar a algum humor de escrita, mesmo que se trate de coisas sérias. A pensar em humor na escrita séria, coisa queiroziana que nos ficou de jovem, tenho logo de mandar um abraço virtual ao Marcelo. Há tempos, deixei aqui e aqui as minhas reservas em relação ao último da infinda lista de manifestos de gente que parece que não tem mais nada onde exercer a devida ação política.
Desde já digo que me é muito reconfortante ler a lista dos subscritores. Não vou procurar quem assinou, mas antes quem NÃO assinou e nestes, felizmente, encontro os meus maiores amigos políticos. E nem preciso de lhes perguntar porque não assinaram. Simplesmente porque “há, nos olhos seus, ironias e cansaços”, porque “sabem que não vão por aí”. Mesmo que Régio não fosse o poeta de estimação da minha gente dos 60s.
Tudo isto vem a propósito de uma notícia a que talvez não devesse dar qualquer crédito, porque publicada no pasquim Sol. É jornal que prenuncia o que vai ser o domínio da nossa comunicação pelo gangue da corrupção angolana (e isto é dito por um velho simpatizante do MPLA do tempo da guerra colonial). Leio-o na diagonal, masoquisticamente, quando distribuído gratuitamente (porquê?...) num sítio por onde passo.
Diz-se que o grupo soarista do tal manifesto prepara uma coisa à Monti (fracassada ao fim de um ano), tentando influenciar o PR para nomear um primeiro ministro aceitável por amplos quadrantes, até sindicalistas, Silva Peneda, presidente do Conselho Económico e Social, ex-ministro de um ou mais governos de Cavaco. Até vai longe a notícia, identificando como apoio, que não imagino de todo, Manuel Carvalho da Silva. É o jornal do arquiteto Saraiva, iluminado pelo sol do título, artista português, palavras para quê.
Não quero crer. Vejo na lista de subscritores muita gente que, como eu, a haver como é urgente o derrube deste governo, só aceitam uma subsequência eleitoral, que não querem abrir as portas a nenhum cesarismo, que não veem no atual PR a grandeza política para garantir que uma tal solução fosse mesmo apenas e só uma coisa muito excecional e transitória, completamente à margem da sua agenda política.
Deve ser coisa do tal pasquim, que não passou pela cabeça de alguns subscritores do manifesto. Mas este é o perigo do manifestismo. Ou a cada especulação vai cada um dos manifestistas explicar a sua posição?
NOTA 1 – Há dias, Filomena Mónica atirou-se que nem gata a bofe a Boaventura Sousa Santos, subscritor do manifesto soarista. Lembrei-me disto porque BSS é hoje o nosso manifestista-mor. Vai a todas, como vai a todos os financiamentos para o seu centro. Eu acho que MFF é uma diletante menina-bem e que atacando BSS há nisso muito prima-donismo das “ciências” (?) sociais, muitos ressabiamentos e invejas num meio em que afinal estão todos bem para os outros. Mas também é facto que o homem expõe todo o flanco. É o nosso expoente do manifestismo. Tanto assina coisas a favor da austeridade como dá entrevistas bombásticas de extrema esquerda.
NOTA 2 – Vendo o tal pasquim dirigido pelo inefável arquiteto autor do mais ridículo e literariamente inepto romance policial de cordel, em folhetins a cada número do jornal (inimaginavelmente abaixo de José Rodrigues dos Santos, porventura o seu émulo), reparo que muitas páginas ímpares são ocupadas com anúncios de página inteira da Boutique dos Relógios. Não é publicidade para Portugal. O pasquim é hoje muito vendido em Angola, que se sabe fornecer boa parte da clientela das lojas de luxo da Av. Liberdade. Quem é hoje o dono da loja? Ao que chegou a “grandeza lusitana”, a “ditosa pátria minha amada”...
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