O caso Artur Baptista da Silva, para mim, é principalmente divertido. Confesso que com alguma simpatia infantil, para quem leu Arsène Lupin ou achava que os truques toscos dos ilusionistas dos raros circos que iam à minha terra eram uma transgressão magnífica das regras certinhas em que era educado.
O homem não é um burlão, não ganhou dinheiro com as entrevistas ou com a conferência no Grémio. Aldrabão lá isso é, e aldrabou um jornalista que eu gosto de ler, Nicolau Santos, mas também com o efeito positivo de nos fazer sermos muito críticos em relação à comunicação social, como aqui tantas vezes tenho dito.
E convenhamos que, se Nicolau Santos se deixou levar por ele, tanto numa crónica de jornal como num programa de TV, ou se uma assistência seleta o ouviu no Grémio sem desconfiar, é porque o homem deve ter um discurso económico e político consistente. Ou julgam que Alves dos Reis não teria sido melhor banqueiro do que Inocêncio Camacho, cuja assinatura conseguiu com o truque mais incrivelmente infantil, o da última página só com data e assinatura?
E convenhamos que, se Nicolau Santos se deixou levar por ele, tanto numa crónica de jornal como num programa de TV, ou se uma assistência seleta o ouviu no Grémio sem desconfiar, é porque o homem deve ter um discurso económico e político consistente. Ou julgam que Alves dos Reis não teria sido melhor banqueiro do que Inocêncio Camacho, cuja assinatura conseguiu com o truque mais incrivelmente infantil, o da última página só com data e assinatura?
Agora o mais estranho é que, nesta “estória”, ainda ninguém tenha discutido o que o homem de facto disse. Veja-se uma das suas intervenções, que por acaso gravei e fui rever agora. O essencial é que o homem diz verdades! Como escreveu um comentador do vídeo, "o mais irónico nisto tudo é que um impostor tenha mais razão e perceba melhor a situação do que os nossos governantes". Talvez seja isto, afinal, que não lhe perdoam. Será que já chegamos ao ponto – claro que eticamente inadmissível – de se forjar toda uma história para se poder exprimir as suas ideias?
É muito pior do que os poemas ridículos e lamechas, de pé quebrado, que põem na net assinados por Pessoa, ou, vindos do outro lado do oceano, também por Carlos Drummond? Ou as cartas ditas de João Ubaldo ou, em Portugal, de Eduardo Prado Coelho, como se já tivesse desaparecido a capacidade mínima de identificar estilos e arquétipos mentais? Este vigarista, ao menos, gozou – e usou bem – este meio inculto em que vivemos, crédulo e acrítico, apesar das suas certezas com pergaminhos “académicos”. “It’s the press/TV/net, stupid!”
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