Tendo falado do troikismo, passemos à recusa. Não há muito a dizer, no essencial, embora haja nuances. No essencial, é cada vez mais gente que recusa o programa combinado com a troika, que recusa os programas e orçamentos do governo que ultrapassam em devoção esses compromissos, que recusa a ideologia neoliberal fanática que lhes está na base, que recusa a noção de que a austeridade a conduzir ao empobrecimento nos vai fazer sair da crise.
Não há dúvidas sobre a posição comum: é preciso denunciar o memorando, é preciso substituir urgentemente este governo. Mas há divergências, penso que resolúveis.
Uma tem a ver com a questão (e o termo) da “denúncia”. Há quem discorde por achar que não temos força para tal, que é uma aventura, que há é que propor renegociações. Afinal, é principalmente uma questão de bandeira política. É claro que ninguém imagina que “denunciar” é fazer uma declaração estrondosa e ficar calmamente à espera. O que se segue imediatamente é exatamente o que os outros propõem, uma negociação. Simplesmente, e isto politicamente é essencial, é uma negociação por parte de quem um murro na mesa, sabendo ao que se arrisca, não por quem, à Egas Moniz, vai de baraço ao pescoço ao Afonso troikiano.
Isto pode parecer uma pequena diferença tática. Não é. Faz-me lembrar tempos meus antigos de horas e horas de discussão com a principal corrente minha rival no movimento estudantil (antes dos maoistas), em que, sobre a luta antimonopolista ou sobre a descolonização, cada palavra não tinha só sentido tático; sentíamos que traduzia uma postura política e uma maior ou menor força de luta.
Mais importante e divisiva é a questão do euro. Há quem defenda como ponto de partida indiscutível a nossa auto-exclusão da zona euro. Na prática, penso ser a posição do PCP. Pelo contrário, os europeístas utópicos recusam qualquer solução nacional que não seja no quadro da “refundação do euro”, numa via trotsquista à Syriza. Era claramente a posição dominante de Louçã no BE, verei como evolui o partido com a nova direção.
Sem desprimor para a legítima participação de militantes partidários nas mais recentes discussões sobre este tema, parece-me que se deve dar maior atenção a um grupo crescente de gente de esquerda não alinhada, em que me situo.
Creio que foram muito instrutivas as intervenções na sessão de trabalho sobre economia no Congresso Democrático das Alternativas. Destaco as da mesa, de João Ferreira do Amaral, de Jorge Bateira e de Ricardo Cabral, todos concordantes em que a questão do euro é técnica, no quadro muito mais importante da requalificação económica e financeira do país. Ficar ou sair? É um fator, certamente muito importante, mas um fator entre outros. E cada coisa a seu tempo, no processo da negociação. Mesmo o relator, João Rodrigues, creio que publicamente identificado com o BE, teve a posição intelectualmente correta de não considerar a questão do euro como um tabu político.
Falta então o cenário do “nim”. Infelizmente, é decisivo, porque corresponde à posição oficial do PS, afinal a força política determinante na viragem (?) da nossa política recente.
Posso estar errado, mas parece-me que a posição oficial (e porventura maioritária entre os seus membros) tem uma vertente troikiana, como já discuti: o compromisso essencial com a troika é para se cumprir (tanto mais que, contra-natura, foi o PS que o subscreveu), a ida rápida ao mercado é essencial, os mercados não se discutem, nacionalizações paciência, também fizemos muitas.
Ao mesmo tempo, coisas meramente cosméticas. Era bom termos mais tempo, juros um pouco mais baixos, menos pressão austeritária. Já alguma vez o PS disse como faria para pressionar os senhores da troika, mais os amigos banqueiros portugueses, mais os neo-liberais da casa de quem todos são amigos, a sentarem-se à mesa e discutirem tudo isto, quando a troika tem as coisas bem escritas no memorando, pelo próprio PS, e a que propósito ia aparecer como uma espécie de Madre Teresa de Calcutá? Principalmente quando a sua linha de defesa contra o cada vez maior erro das suas medidas os está a empurrar contra a parede, em vez de uma atitude científica de auto-crítica?
Já não há pachorra para este blabla, principalmente quando protagonizado por alguém tão baço, tão banal, tão Seguro/inseguro, como António José Seguro. E com uma equipa, um governo sombra, que se desconhece.
Com tudo isto que ficou dito, qual o cenário eleitoral? Chega por hoje. Amanhã continuo.
Penso desde há muito que o PS(eguro) é um aliado objectivo da coligação governamental. Pode ser que aconteça ao mesmo tempo, mas no plano partidário nada irá acontecer enquanto nada de radical acontecer no PS. Este PS asnático que parece acreditar que o voto das sondagens lhe vai devolver o poder...
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