sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A praga dos manifestos (II)

Manifestei-me ontem como antimanifestos. Foi a propósito do último, reunindo tudo o que é gente respeitável à volta do patriarca. De uma leitura admito que apressada, porque já não tenho pachorra, conclui que era coisa que não aquecia nem arrefecia, banalidade de intervenção política de fase buco-anal de política, como escreveu o meu amigo Marcelo.

Hoje vejo que é manchete e com os jornalistas a titularem sempre coisas como “personalidades políticas exigem demissão do governo”. Fiquei angustiado: terei lido mal, induzido em erro os meus leitores? Afinal, há muita gente que considero a subscrever, tenho recebido hoje dezenas de solicitações nesse sentido. Fui ler melhor e o que lá se diz é:
Perante estes factos, os signatários interpretam – e justamente – o crescente clamor que contra o Governo se ergue, como uma exigência, para que o Senhor Primeiro-Ministro altere, urgentemente, as opções políticas que vem seguindo, sob pena de, pelo interesse nacional, ser seu dever retirar as consequências políticas que se impõem, apresentando a demissão ao Senhor Presidente da República, poupando assim o País e os Portugueses ainda a mais graves e imprevisíveis consequências. 
Os signatários "interpretam", iluminadamente, o enorme movimento popular? Os signatários admitem que o "Senhor Primeiro Ministro" possa alterar, sequer repensar refletivamente, sequer perceber com mínimo de inteligência, com ou sem Gaspar, as suas políticas? Os signatários admitem que o pobre homem tem coerência ética para, não podendo rever a sua política, tirar a consequência de demissão? Os signatários não percebem que, com tão triste carta, se estão a pôr ao nível intelectual do Sr. Passos Coelho? Os signatários lembram-se das ridículas cartas deste género que os seus pais ideológicos mandavam a Salazar (e que a censura nem deixava vir a público), certamente para grande gozo do tenebroso sacrista?

Eu escreveria essa carta aberta como exercício de humor negro, mas os tempos não são de humor. Escreve-se uma carta aberta a pedir a Passos Coelho que altere a sua política, e depois diz-se ao homem que, senão, é seu dever demitir-se. Redigo, tal tontice só pode ser lida como humor e eu não ando nada para humor.

Tudo entre gente politicamente bem educada, que, propondo a Passos Coelho que se demita, parte do princípio que ele, com a sua ética, vai pensar pelo menos durante um minuto sobre essa proposta. Senão, como se diz no fim da carta aberta, ainda vamos deixar isto entre as mãos pilatamente impolutas e milagrosas do venerando chefe de estado.

Este país já virou um imenso manicómio? Ou pelo menos, neste caso, um lar de terceira idade?

1 comentário:

  1. não foi convidado?
    não desespere!oportunidades não vão faltar...infelizmente por culpa tb. de alguns que nada fazem...a não ser desancar nos que mexem!

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