segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Hoje sabe-me a pouco!

Estou velho, mas tenho tido conversas com grandes amigos políticos que me fazem pensar se afinal sou mesmo eu que estou velho. As coisas estão difíceis, a malta está vulnerável e pode ser despedida, vamos com calma.

E eu, pateta/patético, nestes meus 67, a pensar que já não há calma que me valha para me ajustar contas comigo mesmo, homem político (e não só).

Exemplo de vamos com calma. Aqui atrás vai a minha adesão à iniciativa cidadã de auditoria da dívida. Espero que se sigam muitas outras manifestações minhas de adesão e apoio a iniciativas deste género. Mas isto obriga-me a alguma clarificação. Os tempos que correm são do martelo-pilão da compressão das opiniões, da manipulação orwelliana à 1984 dos tais 80% de eleitores que têm razão. Nunca, nem nos tempos da maior demagogia à SNI, só para falar em Portugal, assistimos a tão horrorosa manipulação das mentes.
Até a um dos mais exemplares opinadores consensuais, João Duque, que me envergonha dizer que é meu colega académico, vir dizer o que acha que é a “boa” manipulação fascista da informação, “a bem da nação” (ver o selo que colecionei em miúdo, criação de Almada Negreiros - que confusão, a dos futuristas, cá e na Itália fascista). E não será que João Duque é o padrão dos formadores da estrutura mental dos nossos jovens economistas? É que conheço muitos jovens licenciados que nem percebem como foram formatados.
O que se diz por aí? Somos culpados; temos pecados a pagar perante o altar germânico; vamos passar ajoelhados debaixo da porta de Brandenburgo, para esquecer os passos de ganso a passar na Étoile em 1940; tudo isto que nos está a acontecer é inevitável; somos gente séria e vamos a Toledo/Berlim de baraço ao pescoço, ninguém nos acusará de caloteiros; Gaspar e outros “nerds” ou economopatas levam-nos ao caminho da probidade. É isto que lemos.
Infelizmente, leio amigos do peito, incapazes de pensar hoje em termos de economia política - o marxismo era uma treta! - a fazerem discussão política arcaica, quem do partido X fez asneira, quem do partido Y fez mais. É verdade, mas é ver a curta distância. Hoje não há X ou Y, não há partidos na liça democrática tradicional, há o novo império da finança, dos políticos serventuários, Merkozy, que ditam quem deve ser o governo grego ou italiano. Passos Coelho que se cuide!
Voltando atrás, o que me leva hoje à escrita é a tal coisa das iniciativas e da minha adesão. O que por aí vai, desde partidos de esquerda (PCP e BE) que muito me desgostam, até a movimentos mais ou menos incoerentes mas importantes na prática, nada me pode ser estranho. Nihil humanum est a me alienum puto (nada do que é humano me é estranho), dizia Marx, citando Terêncio. Marx, esse horroroso proto-fascista... porque nazismo e comunismo foram a mesma coisa, há quem diga.
Qualquer coisa que seja contra o martelo-pilão - mesmo que, nas recondezas deste meu diálogo com o computador, me faça pensar que “isto é patetice” - tem o meu apoio. Mas quero deixar as águas limpas. Apoiar não é subscrever por inteiro.
Por exemplo, isto da auditoria cidadã, que apoiei. Temos um plano troikiano a três anos. Temos a expetativa de miséria a três anos. Temos entretanto 80% de eleitores a apoiar o plano de austeridade, que afinal é de recessão, de espiral descendente para o empobrecimento. A cada dia que passa, a miséria agrava-se. Conta-se por dias. Entretanto, vamos passar não sei quanto tempo a analisar se uns tantos milhões de dívida foram ou não legítimos? Se vamos pagar o quê e a quem? É indignação virtuosa, a mais inútil das atitudes políticas.
Neste momento, é pura e simplesmente dizer que vamos reestruturar a dívida, o resto a explicar vem depois. Mais, talvez, que vamos sair do euro

Mais, coisas que ouço. Que isto de partidos é tudo uma porcaria, bonito é acampar, ouvir gurus que falam pelo lado contrário daquele pelo qual recebem as benesses do sistema. Mas quando daqui a quatro anos tivermos de votar em sei lá o quê que for de diferente, hoje ainda ninguém pensou em abrir caminho, muito pelo contrário, ó meu que partidos são todos uma merda. E não há gente séria, da minha vetusta idade, a não se render a este império dos "rasta"?
Estou a ser radical? Isto faz-me lembrar o grande sucesso mediático de Yanis Varoufakis e da sua “proposta modesta”. É natural que queiramos confortarmo-nos com coisas que não são luta  radical, que se calhar são sensatas, mas que afinal se baseiam em fadas.
Então as propostas modestas, à portuguesa? Vou subscrevê-las, claro, mas sabem-me a pouco.



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