quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Democracia sim, mas há limites!

Toda a “Europa” está à beira de um ataque de nervos com o anúncio do referendo grego. Depois de dois anos de economia moral, a castigar os malandros, de tergiversações sobre o resgate atempado, se é que mesmo então resultaria, depois de uma solução a 21 de Julho postergada até agora e uma solução coxa, depois de tempos e tempos de tolerância - senão verdadeiro estímulo - a atitudes xenófobas e nacionalistas dos cidadãos de triplo-A, eis que agora são os gregos que devem pensar e atuar de acordo com coisa tão evidente (!) como “estamos todos no mesmo barco, nenhum país pode decidir sem os outros, não podem por em risco o euro, etc.”
Como acabei de ouvir Fernando Santos, correspondente da SIC, “como é que os gregos podem querer fazer um referendo quando estão dependentes da “ajuda” europeia? Provavelmente não haverá referendo porque a “Europa” vai fechar-lhes a torneira e eles nem salários poderão pagar”. Gente como este jornalista não faz ideia do que é ter-se coluna vertebral.
Como já tinha acontecido com Sócrates chamado a Berlim, como um embaixador de um pseudo-estado é chamado às Necessidades, agora lá foi Papandreou convocado a Cannes pela hoje indiscutivelmente única autoridade europeia, o casal Mer-k-osy.
Toda esta gente enche a boca com a palavra democracia. A democracia serve para tudo. Serviu para bipolarizar o mundo, serviu para derrubar libertadores como Mosaddegh, Sukarno ou Lumumba, serve para guerras de agressão. Mas, se levada longe, já se tenta fugir a ela ou torneá-la, como tentando evitar referendos sobre os tratados europeus. Agora, sem dúvida, para o que a democracia não pode servir de forma alguma, seja como vontade popular no berço da democracia, é para abalar minimamente os alicerces ou por em questão os dogmas do sistema económico.
NOTA 1 - Deixo de lado alguns outros aspetos, como o de me parecer, embora leigo, que, ganhando no referendo a recusa do plano da semana passada ou mesmo perdendo por pouco, o euro tem os dias contados e a incapacidade importadora dos periféricos europeus vai fazer-se sentir no bolso dos bons alunos do norte e centro.
NOTA 2 - Politicamente, Papandreou jogou uma grande cartada. Mesmo que, cinicamente, se possa pensar que ele apenas quis salvar a face, despachando para o eleitorado a responsabilidade do que inevitavelmente se prepara como desgraça, fosse coimo fosse, teve razão. Mais razão ainda se é verdade que, como afirma, avisou disso os seus colegas europeus, antes de eles anunciarem o plano da semana passada.

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