quarta-feira, 21 de março de 2012

Salut, la France (II)




Há muitas ruas. “A la calle”, à anarquista espanhol, giro, romântico, imprevisível, com panache. Pode ser apimentado com uns molotovs, como em Atenas (e quando em Lisboa?). Com um punhado de gentes da rua se fez o 5 de outubro, com mais gente “arruada” a acompanhar uma meia dúzia de tanques se fez o 25 de abril.
Na rua se mostram hoje dezenas e dezenas de milhares a chamamento da CGTP, incomparavelmente menos a chamamento de coisas ainda muito embrionárias. Mas tudo é certinho, jogada de peão, nada aponta para um dia próximo de decisão.
A rua também pode ser um comício. Já tivemos comícios grandiosos, mas poucos como o da foto deste “post”, na Bastilha, para ouvir Jean-Luc Mélenchon. Como só vemos metade da praça, tão grande como o Terreiro do Paço, não estão menos de 100.000 pessoas.
Um comício enquadra-se num objetivo concreto, uma campanha eleitoral, mas claro que se alimenta do sentimento popular anterior. Imaginemos que temos eleições este ano. As pessoas começam a estar zangadas, mas também perplexas. Não sabem bem o que querem, muito menos saberiam encontrar uma alternativa política como esta francesa que lhes fosse bater na sua emoção de homens atordoados pelo sistema político-partidário. Alguém imagina uma nossa frente política de esquerda partidária a levar toda esta gente à rua?
E veja-se que, sem menosprezo pelas novas formas de intervenção política, este fulgor de esquerda em França se situa no mais convencional quadro político, institucional e partidário. Por isto, continuo a dizer: é urgente uma nova alternativa partidária de esquerda em Portugal.

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