quarta-feira, 21 de março de 2012

Salut, la France (I)


A minha geração falou francês. Não fosse a ideia do meu pai, nos fins dos 50s, de que o inglês é que me serviria e de me ter metido em lições semanais de inglês, bem como me comprar todos os meus livros de medicina em inglês, estaria hoje tão afrancesado ainda como tantos meus amigos de “letras”. 

Todavia, ainda nos vem surpreendentemente alguma coisa dessa nossa segunda pátria tradicional. Nestes últimos dias, tenho lido menos em inglês, menos do que habitualmente os nobeis da economia ou a imprensa internacional. Leio e ouço um homem notável, Jean-Luc Mélenchon.
É um homem com a qualidade notável de não só dizer coisas certas como as dizer muito bem. Um grande orador, como só estávamos habituados a ouvir em inglês, por exemplo Martin Luther King.
É o candidato da frente de esquerda (Front de Gauche) às próximas eleições presidenciais francesas. O FG inclui o PCF, o Parti de Gauche (PG) e alguns grupos menores. Claro que não vai ganhar mas, na segunda volta, Hollande vai ter de considerar as posições do FG. Palpita-me que, depois das eleições francesas, muito do que tem sido marcado na Europa pelo coitadinho eixo Merkozy vai mudar. Por si só, Hollande já promete diferença. Com a pressão do FG, o sistema europeu da tristeza ideológica e económica dominante que se cuide.
Vai só aqui uma lista muito sucinta das posições do FG, os títulos dos capítulos do programa. Melhor é lerem-no.
  • Partilhar a riqueza e abolir a insegurança social.
  • Reconquistar o poder da banca e dos mercados financeiros.
  • Planeamento ecológico.
  • Modo de produção alternativo.
  • Uma verdadeira república.
  • Assembleia constituinte da VI República.
  • Denúncia do Tratado de Lisboa.
  • Mudança do caminho da globalização.
  • Emancipação humana.

Provavelmente por dificuldades de entendimento entre os participantes no FG, as posições quanto à crise e ao euro ficam diluídas e ambíguas. Mas já as do PG são muito claras, como direi noutra ocasião. Agora fico por aqui, mas vou ter de escrever mais sobre esta esperança que nos vem da Bastilha. Sempre a Bastilha, sempre a rua.

NOTA - Ainda antes do próximo “post”, fica claro que é difícil transpor isto para Portugal. O PCF não é o PCP e, principalmente, o PG não tem mesmo nada a ver com o BE. Depois explicarei.

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