segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Krugman, duas leituras


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Paul Krugman, prémio Nobel da Economia e hoje doutorado honoris causa pelas três universidades lisboetas, é muitas vezes invocado como autoridade pela esquerda portuguesa (a esquerda real), embora a sua visão neo-clássica não seja totalmente coincidente com a de muitos dos nossos economistas anti-neo&ordo-liberais.
De qualquer forma, a direita rejubilou por ele ter afirmado que Portugal, para sair da crise e ganhar competitividade, precisava de reduzir os salários entre 20 e 30% em relação aos salários alemães. Não é o que a troika diz?
O que esses salivadores pavlovianos não esclarecem é que há duas formas radicalmente diferentes de se conseguir essa desvalorização: interna e externa.
A desvalorização interna, no espartilho do euro, é mesmo o que se pode deduzir linearmente do que diz Krugman: redução nominal e real do preço do trabalho, diretamente (redução ou congelamento dos salários) ou indiretamente (redução dos benefícios sociais, aumento do horário de trabalho, etc.). O que fizeram os gregos com o resultado que está à vista.
A desvalorização “externa” é cambial, por desvalorização da moeda, só possível se Portugal sair do euro. Krugman não rejeitou esta hipótese, que os seus leitores sabem ser recorrente nos seus escritos. O que disse até foi que não está seguro de que Portugal se possa manter no euro. Simplesmente, esta afirmação foi feita num quadro de “dinâmica histórico-económica”, em que só se vê o contexto geral, à escala europeia.
Ora o que devia contar mais era a decisão nacional, de um país ativo e não meramente elemento passivo ao sabor das dinâmicas europeias. Saltando vários passos evidentes da demonstração do teorema, a conclusão do “postulado” de Krugman parece-me simples: Portugal tem de sair do euro e adotar uma moeda nacional com adequada desvalorização

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