quinta-feira, 27 de outubro de 2011

La donna e mobile

Opondo-se à proposta do PCP de reestruturação da dívida, o ministro Álvaro afirmou na Assembleia da República que “nem precisamos de olhar para outros países para pensarmos no que aconteceria com uma reestruturação da divida desordenada, seria trágico para Portugal”.
Há pouco tempo, alguém tinha escrito num livro com sucesso, “Portugal na hora da verdade” (ed. Gradiva, 2011, pág. 282). Citei-o numa entrada anterior
“Finalmente, há ainda a possibilidade de reestruturar a dívida dos países em dificuldades, com uma possível insolvência parcial de um ou mais países e/ou o reescalonamento e a renegociação das dívidas soberanas nacionais. Neste caso, os países em dificuldades tentariam não só aumentar os prazos de pagamento das suas dívidas, mas também conseguir melhores facilidades de pagamento. Como? Quer através da redução das taxas de juro ciadas às suas dívidas, quer inclusivamente renegociando montantes do endividamento. Por isso, neste caso, os detentores das obrigações desses Estados seriam forçados a partilhar os custos da reestruturação da dívida. Esta é, de facto, a hipótese provável e, porventura, também a mais desejável.(…) É possível e até provável que não consigamos evitar uma reestruturação das nossas dívidas. (…) perante o terrível leque de opções que enfrentamos, (…) a solução menos má parece ser a da reestruturação das nossas dívidas.” [JVC - itálico meu]
Quem escreveu isto foi o professor Álvaro. O mesmo que é o ministro Álvaro, a menos que haja aqui um caso esquizoide de dupla personalidade.

1 comentário:

  1. Sejamos honestos: se estivéssemos no lugar deles, será que anunciaríamos o que íamos fazer? Se o anunciássemos antecipadamente, sabendo que iam perder, estes libertar-se-iam desses títulos e isso teria consequências dramáticas para quem governa... Claro que para os governados seria do melhor... mas quem governa não o vai fazer contra os seus interesses políticos pois ficaria na história escrita pelos seus amigos como um desastrado. Por outro lado, se o fizessem declarando que era para defender o povo, ficariam como heróis na história escrita pelo povo. Ora... será que há alguma dúvida quanto à opção política do nosso adorado governo?

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