Anda por aí grande alarido com as mordomias dos políticos. Ministros com casa em Lisboa que recebem subsídio de deslocação; mas hoje, principalmente, grande “caxa”, as subvenções vitalícias aos políticos. Eu compreendo que gente com perda de subsídio de férias e de Natal se indigne, mesmo que essa indignação não dê nada, porque continuarão a votar no centrão, porque nem se lhes passa pela cabeça sair à rua nas manifestações que cada vez mais serão muitas. Eu compreendo que é mais fácil a indignação sobre este tipo de coisas do que sobre coisas complicadas como o ditame de austeridade troikiano, ou a alternativa de reestruturação da dívida, ou a crise do euro.
Repito, compreendo esta indignação. Espero que ela possa contribuir para a sua superação dialética como programa de mudança. No entanto, o que esta a indignação muito elementar e pouco informada também poderá dar - tenho medo - é alimento ao populismo, à demagogia, ao niilismo de que se fizeram os fascismos. Até com maioria eleitoral dada por gente que achava que os monstros anunciados não eram também políticos e do pior - como se, mal comparando, Medina Carreira, o guru que se cita diariamente em todos os programas de palavra ao ouvinte, não tivesse sido político e não o seja hoje até à medula.
O que não compreendo é que não venha ao de cima coisa tão elementar como é a surpresa com o que esta história mostra de muito mais grave. Não a corrupção dos políticos, mas sim a sua abismal mediocridade. Não a indignação do Zé, mas a sua visão popular rasteira, mas também patuleia (cuidado!), de pão e copo de vinho, na taberna de província. Não o grande caso político, mas sim a pequenez do caso.
Quanto era o tal subsídio dos ministros? Um pouco mais de 1000 euros. Quanto é a tal mordomia dos políticos (fora o caso aberrante de Melancia, coitado, falido, e com a coisa bizarra no passado de ter ofendido os chineses com a sua noção pequenina do dinheiro)? 2000 a 3000 euros mensais. É claro que é imenso para o pensionista que vai perder os subsídios por ter uma pensão de metade ou um terço desse valor.
Mas o que é isso em percentagem do rendimento de pessoas como Bagão Félix, Dias Loureiro, António Vitorino, Armando Vara, Rui Gomes da Silva, Ângelo Correia, Duarte Lima, Jorge Coelho, Ferreira do Amaral, Zita Seabra, Álvaro Barreto, todos os referidos nas notícias de hoje? É gente que provavelmente recebe por mês 10.000, 20.000, muitos mais euros.
Como é que se deixam manchar por tão mixoruca fração dos seus rendimentos? Um vigésimo dos seus rendimentos valem o risco de serem expostos em público, quando uma das regras dos grandes dos negócios é saberem ocultar-se? O problema destes políticos não é o de serem corruptos. É o de serem estúpidos! E nisto incluo a arrogância de quem nem pensa no juízo dos outros, de quem se sente superior e impune. Porque a maior forma de estupidez é pensar-se que todos os outros são estúpidos. É por isso, principalmente por isto, que merecem serem expostos no pelourinho da opinião pública e da crónica nacional, infelizmente longa, da mediocridade dos Abranhos e Gouvarinhos.
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