segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Partido LIVRE (II) - O posicionamento

Uma imagem explicativa da dialéctica é a espiral. Andamos em circunferência, voltamos a andar e tudo parece o mesmo, na horizontal. Afinal, a cada volta, subimos também na vertical, ganhamos nova qualidade, a circunferência de cima já não é igual à de baixo. A perspectiva antidialéctica do lugar dos partidos é o que chamei de perspectiva geográfica. Não quero um partido no mesmo plano dos outros, quero num plano superior, a outra volta da espiral. Pelo contrário, a visão de Rui Tavares (RT) e do seu LIVRE é esquemática, mecanicista, antidialéctica (já agora, antimarxista, mas isto de marxismo não é coisa obrigatória para quem quer falar de esquerda, embora não fizesse nada mal).

Ainda por cima, RT confunde-nos com uma proposta estranha de posicionamento geopartidário, o de colocação “no meio da esquerda”. É difícil de perceber, quando ele certamente acha que há três partidos de esquerda, o que, para fazer um meio entre eles, obriga a colocá-los em triângulo. Enfim, mais uma coisa retoricamente pateta. Não digo mais porque a morena, meu grilo falante, me diz sempre "dá cabo das asneiras mas não te rebaixes a adjectivá-las". Mas, perdoa, não resisto, lá que é coisa tonta é! E também escrita balofa, de discurso de tudo e de nada, como “entendemos como nosso dever a procura e a realização de convergências abertas, claras e transparentes, para criar uma maioria progressista capaz de criar uma alternativa política em Portugal e na Europa.”

Na prática, porém, vê-se facilmente que o seu posicionamento é outro. Nunca mais fala do vértice PCP, só dos outros. “Sinto-me bem com muita gente do PS e do BE, da ala mais moderada do BE e da ala mais à esquerda do PS”. Não se pode ser mais claro. Mas isto diz alguma coisa a todos os muitos eleitores confusos, não representados? Querem eles saber do que é o espaço geopartidário das elites partidárias ou dos órfãos dos partidos? Ou dos eternos oscilantes da ala esquerda do PS, que se passaram para o BE e que agora não sabem onde estão? Isto é o problema estrutural dos saudosistas sociais-democratas, por quem tenho simpatia como companheiros de luta, mas a quem só posso dizer “assumam-se, lutem”. 

Tenho muita estima pela social-democracia europeia dos anos 50 e 60, que mais não fosse pela solidariedade que lhe devemos, bem como os movimentos de libertação das ex-colónias. Mas que o PS não é social-democrata, que, na onda blairiana da terceira via adoptou o neoliberalismo, é coisa indiscutível. Para mim, o LIVRE quer reocupar o espaço perdido da social-democracia em Portugal.

Muito bem, mas assuma-se. Não vai estar no tal estranho meio da esquerda, nem no “espaço moderado” do BE, vai querer é ser o “verdadeiro partido socialista”. Veremos o que isto vai dar. Mas, meus amigos, sejam honestos. São próximos do PS, sempre foram, estiveram envergonhados pelas socratices e pela moleza de Seguro, não venham agora dizer que querem alguma coisa distinta do PS. Querem, de facto, é coisa que lhes permita sentarem-se sem problemas à mesa de conversa com o PS.

Também os seus apoiantes. Tenho recebido muitas mensagens sobre este tema, numa lista de e-mail  remanescente de um grupo político entretanto desaparecido. Com todo o respeito pelo seu direito de opinião, noto na maioria uma grande hostilidade ao PCP e alguma frustração em relação à eficácia do BE (perder metade dos votos é coisa difícil de aceitar por revolucionários de entre hoje e amanhã, sem sentido do tempo  histórico). 

E tenho memória de elefante. Esse grupo, de certa forma herdeiro da campanha Alegre, foi desafiado por mim e outros a avançar para partido, o que não venceu. Creio que, dos oponentes, alguns estão agora neste projecto “livre” de aproximação ao PS. Justifica-me pensar que é o que sempre quiseram. Também um movimento importante, que na altura contactei e que não estava disponível para um novo partido, a Renovação Comunista. Está nesta coisa de RT?

Julgo que vale a pena lembrar o PRD. Até vou defender o PS, contra o que disse sobre a sua degenerescência e a necessidade de um “verdadeiro partido socialista”. Sem nos retermos na tentativa da ala Manuel Serra, o PRD foi a grande experiência de enfraquecimento propositado do PS. O próprio PCP acarinhou-o. Mas foi não pensar que um partido sem matriz ideológica sólida e consequente, feito de protesto e de negação, sem programa, centrado numa figura mediática, não iria soçobrar à segunda, como aconteceu. O proposto LIVRE não tem todas as características populistas do PRD?

Continuarei a escrever.

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