terça-feira, 19 de junho de 2012

Grécia e Portugal, tão diferentes!

Prolegómono, palavra rebarbativa. Prolegómono daqueles de moer no fundo da postura política é saber se e como se deve criticar os aliados, se e como elogiar os adversários quando é caso disso. Deixando este último e mais fácil lado da questão, vou ao outro e penso que sempre a esquerda se alimentou da polémica. A direita conserva-se no simplismo da defesa de coisas seguras e fáceis. A esquerda abre caminhos só adivinhados, ensaia e erra, polemiza. Isto é dar armas ao adversário? Para mim, decididamente não, é mostrar a muito mais gente do que os pequenos grupos ativistas que a esquerda é plural, rica e que oferece alternativas.
Dito isto…
Louçã colaborou na campanha da Syriza. No regresso, segundo o Público, proclama, com o entusiasmo natural de quem participou em tão importante acontecimento político, que “o país deve revoltar-se contra a austeridade e uma política de “terra queimada” que só conduz ao desastre e à falência da economia”. Muito bem, mas palavras, palavras, palavras…
“Portugal precisa de se revoltar para recuperar a sua economia, a sua dignidade e a sua vida”. Inegavelmente bonito, mas palavras, palavras, palavras…
“Só uma viragem pode salvar o euro de um fanatismo liberal”, afirmou. Muito bem, mas que viragem, no real? Palavras, palavras, palavras…
Francisco Louçã congratulava-se assim com os resultados obtidos pela Syriza, segunda força política na Grécia, e considerava que significam ‘um sinal fortíssimo para a Europa e para Portugal também’ ”.
Tendo eu dúvidas sobre a justeza de algumas posições da Syriza, não cometo a injustiça (que afinal eles merecem quando põem Louçã ao lado de Tsipras) de considerar que a clareza das propostas da Syriza tem alguma coisa a ver com o  contorcionismo taticista dos muitos louçãs de cá. 
A proposta da Syriza é transparente, como disse, talvez com o simplismo das coisas reduzidas ao muito simples. Queremos, gregos, permanecer no espaço do euro, mas não nos queremos sujeitar ao austeritarismo. Vamos rejeitar o pacto com a troika. Vamos confrontar a “Europa” com esta posição de coragem nossa, a ver se eles percebem que se nós puxarmos a corda ela pode rebentar-lhes na cara. E temos praticamente metade dos gregos connosco. No fundo, esperamos que os euro-ricos vão perceber que, antes de com isto falirmos e não podermos pagar ordenados e pensões, vão falir alguns dos seus queridos bancos, expostos à nossa dívida. A economia desses senhores fez-se como jogo de casino, agora jogamos nós.
Embora com dúvidas sobre se esta política é possível sem saída do euro - e compreende-se, em termos de técnica política, que a Syriza não o diga - perfilho esta posição e bem gostava de ver alguém em Portugal a defendê-la com clareza. Louçã diz que “estes resultados são um sinal fortíssimo para Portugal”. Muito bem, isto deve querer dizer que algum partido, em Portugal, vai pegar nessa bandeira.
Será o BE? Obviamente que não. Desafio alguém a demonstrar, mesmo com o maior benefício da dúvida, que as muito ambíguas referências louçã-bloquistas a renegociação, etc., tenham alguma coisa a ver com a posição da Syriza, que Louçã agora quer aproveitar internamente, “são o nosso partido irmão”. Será o PCP ou o PS? Claramente que também não. Precisamos com urgência é de um novo partido.

NOTA - Há uns tempos, um amigo bom conhecedor dos meios internacionais de variadas esquerdas, alertava-me para que alguns intervenientes muito ativos nas discussões netianas não só portuguesas - com destaque para economistas - são marcadamente trotsquistas. Confio na sua opinião, mas não percebo. É uma espécie de maçonaria de "esquerda", mais ou menos esotérica? E não percebo porque, se há muitos anos li alguma coisa sobre o conflito pós-leninista e sobre o seu fim trágico à mão de um tal Ramon Mercader, isto hoje parece-me romance de Salgari ou coisa de infantilidade política. 

(Editado)

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