Tenho um truque de cuja eficiência prática sempre me gabei (principalmente em situações de tensão de debate, discussão ou negociação). Duvido de que tenha alguma base científica, mas serve-me, na prática. Também não sei se tem alguma coisa a ver com Stanislavsky ou com o Actor’s Studio - até acho que tem.
Trata-se, pura e simplesmente, de me meter na pele de outro, sentir a sua mentalidade, feitio, forças e fraquezas, só por analisar bem a sua fisionomia e tentar imitá-las, em exercício de mimetismo. Se imito fisionomicamente outra pessoa, passo a ser muito ela. Até penso com a voz dele. A mente é muito o reflexo do corpo, da emoção (e expressão é emoção), coisa que tornou tão popular o nosso compatriota Damásio. Modificarmos o nosso corpo faz-nos modificar a mente.
Garanto que já tenho ganho muito na vida com esta minha habilidade, construo nos segundos prévios decisivos a minha resposta a argumentos ou atitudes. Se calhar, também para efeitos casanovianos… lembram-se do “Adam’s rib”? Que jeito dá conseguir chorar na hora certa! O mal é a morena ter a mesma habilidade de camaleão carinhoso. Almas gémeas é muito bonito mas também pode ser um problema.
Não é preciso ir tão longe nessa "impersonação", muitas vezes basta a análise da expressão facial, do olhar, do sorriso, dos rictos. Vejam este, Carlos Moedas, eminência parda de Passos Coelho. A cabeça e a face estão posicionadas com rigidez artificial. Este homem começa por não ser certamente assim quando acorda e boceja, o momento mais verdadeiro da nossa vida (ou, à velho gentleman, quando veste as cuecas diante do “valet” que as escolheu). A cara é uma máscara. O olhar é distante e frio. Vemos na televisão que também é rígido, fixo, controlado, inexpressivo. A boca não mostra sorriso nem desagrado, antes alguma coisa artificialmente indefinível, uma lâmina, fechada, controladamente, sem sinal de sensibilidade. Manter aquela linha de lábios e ao mesmo tempo o ligeiríssimo sorriso nas comissuras, é coisa totalmente artificial. Experimentem, defronte do espelho, sentindo como se sentem. Ainda por cima, a voz parece de gramofone, de disco riscado.
Perante o mundo, este produto exemplar da sociedade de hoje adota uma imagem construída. Não consigo, no meu truque, “entrar nele”, porque é entrar numa máquina. Este homem não é um homem, é um robô. Como ele, só conheço Jens Weidmann, o jovem presidente do Bundesbank (aliás, são fisionomicamente parecidos; e até escolheram os mesmos óculos). Ou, em versão caricata, o inefável comissário europeu Olli Rehn, com o seu típico falar inglês de sintetizador acústico digital. São todos uma espécie de “invaders” que nos permitiriam ficcionar sobre o que se está a passar com estes filhos da banca. Acudam, vêm aí os marcianos!!!
Perante o mundo, este produto exemplar da sociedade de hoje adota uma imagem construída. Não consigo, no meu truque, “entrar nele”, porque é entrar numa máquina. Este homem não é um homem, é um robô. Como ele, só conheço Jens Weidmann, o jovem presidente do Bundesbank (aliás, são fisionomicamente parecidos; e até escolheram os mesmos óculos). Ou, em versão caricata, o inefável comissário europeu Olli Rehn, com o seu típico falar inglês de sintetizador acústico digital. São todos uma espécie de “invaders” que nos permitiriam ficcionar sobre o que se está a passar com estes filhos da banca. Acudam, vêm aí os marcianos!!!
Diferente, goste-se ou não - e eu abomino o homem, com tendência familiar para Savonarola - é Vítor Gaspar. A expressão é espontânea e sincera. O facies - coisa tão importante na cultura médica - é natural, mostra muitas rugas e papos, barba mal feita, ao contrário da pele lisinha e assética do anterior, gravata de mau gosto, sinais - para nossa infelicidade - de quem preza mais o seu fundo de alma do que a sua imagem. O olhar iluminado, o mais significativo nele a par da forma, tom e ritmo de falar, é o mais característico e permite-me facilmente, neste caso sim, “meter-me nele”. Ao fim de um minuto, principalmente se ensaiando também um dos seus discursos com a sua gestualidade manual muito característica (de púlpito de igreja, com nova técnica de abanar teatralmente a largueza de mangas dos paramentos), julgo senti-lo.
Um fanático, um missionário, alguém sinceramente honesto mas que não questiona intelectualmente essa honestidade e a sua fé, apesar dos instrumentos académicos que obteve, de quem os seus alunos ouviram sermões quando julgavam ouvir aulas de natureza científica. Um tridentino, um homem da igreja, um meu avô ultramontano. Porque honestamente convicto e apóstolo, muito mais perigoso, muito mais difícil de desconstruir.
Falta falar de Passos Coelho, mas não apetece, porque a ideia de o "impersonar" é desgostante. Diferente é Seguro, mais desafiador como exercício, mas o resultado seria igualmente desgostante, até talvez por piores razões. Já tentaram pensar no que seriam com aquela carinha? E se não estariam, quase que por natureza, num seminário? O outro caso manjifesto em que, à Zelig, visto facilmente a personagem é o do ministro Relvas. Mas este é caso tão óbvio, com aquela cara de aldrabão, que não merece nota.
Finalmente, proíbo os leitores de dizerem que este é um "post" à Zandinga!
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